Por Guilherme Vidal,
Em 24 de março de 2013, o grupo insurgente SELEKA tomou o controle da capital Bangui e depôs o presidente General François Bozizé. Logo após o golpe de estado, os rebeldes passaram a controlar as florestas tropicais do país. Desde então, os insurgentes fecharam acordos lucrativos com grandes madeireiras internacionais. Com o dinheiro dos contratos, o Seleka passou a financiar uma campanha de violência contra a população de seu próprio país.
As investigações conduzidas pela Global Witness revelaram como empresas madeireiras colocaram milhões de euros nas mãos de grupos culpados de assassinato em massa, sequestros, estupros e recrutamento de crianças-soldados. A Europa e seus Estados são cúmplices em pelo menos três tipos de acusações:
As empresas europeias possuem laços comerciais com a indústria madeireira da República Centro-Africana. Apenas em 2013, as companhias do velho mundo deram na mão do Seleka mais de 3,4 milhões para poderem continuar a venda ilegal de madeira.
A Europa também é o principal destino da madeira de RCA, portanto, os Estados-Membros estão falhando no controle da entrada ilegal de madeira. A União Europeia possui um política rígida de atuação contra a entrada de pessoas “ilegais”, porém fracassa ao não conseguir manter o Blood Timber fora dos mercados europeus.
Além disso, o governo da França pagou milhões de euros para bancar o desenvolvimento das madeireiras da RCA, com base na falsa justificativa de que essas companhias estariam contribuindo para o desenvolvimento local.
As madeireiras sob investigação são France’s Tropica-Bois, SEFCA do Líbano, e Vicwood da China. Juntas, essas empresas controlam uma área de floresta tropical duzentas vezes maior que Paris. Ademais, elas também respondem por 99% das exportações de madeira da RCA.
Segundo as investigações, as três madeireiras fizeram pagamentos frequentes para os rebeldes, como subornos e escoltas armadas para transporte de madeiras. Logo após o golpe, o grupo SEFCA transferiu 381 mil euros para o governo do Seleka.
A burocracia europeia tem feito muito pouco para dissolver os tratados ilegais. Durante o conflito de 2014, a madeira ultrapassou o diamante como número UM de exportações. O maior negociante da RCA, France’s Tropica-Bois, registrou aumento recorde em 2013, subindo 247% desde 2010. Procurada pela Global Witness, uma representante da empresa francesa disse “ A guerra na África é tão comum que nós realmente não prestamos atenção. Não é uma guerra onde eles atacam as pessoas brancas. Então, não é uma guerra que temos de evitar”. Para azar dela, a entrevista estava sendo gravada.
Em meados de setembro de 2013, um grupo — Anti-Balaka — de partidários ligados ao ex-presidente François Bozizé lançou uma ofensiva militar contra os rebeldes e civis muçulmanos da RCA. Milhares de pessoas morreram e 300 mil saíram do país como refugiados, além dos 500 mil civis que abandonaram as suas casas. Porém, com a expulsão dos rebeldes pró-Seleka e a instalação de um governo de transição, as empresas madeireiras não cessaram os pagamentos. Eles apenas passaram a ser debitados na conta do grupo Anti-Balaka.
“É tragicamente irônico o fato dos governos europeus investirem centenas de milhões de euros em operações militares para garantir a paz na RCA. São os mesmos governos que não conseguem manter a madeira do conflito fora dos mercados da UE. Se a Europa não cancelar o seu apoio as madeireiras, os consumidores da UE continuaram dando combustível ao conflito que eles mesmos enviaram seus soldados para parar.” — Alexandra Pardal, líder da campanha Global Witness.
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